quarta-feira, 30 de março de 2011

Embriagar-me-ei de nós






-Não irei tomar teu tempo, não vou me inebriar de tuas coisas, talvez dose ou outra do teu corpo e do teu ser que é pra sentir o gosto forte afastar os males, sentir a dose descer queimando pela garganta e chegar ao fundo trazendo calor. Mas fora isso nada de me embriagar de você, só gole ou outro. Embriagar-me mesmo só se for de “nós”.




   Quanto egocentrismo guardado! Então o escondia de mim afinal de contas? Achou que possuiu a mim? Cala-te meu amor, não me fale besteiras. Ando tão bem sozinha quanto ao teu lado. Gostar nunca significou ter posse, não estive em tuas mãos, mas andei pelos teus pensamentos. 

Um pensamento na mesa do bar

Ela não sabia se estava sóbria ou lúcida, mas provavelmente ainda estava muito consciente para pedir mais um copo. Sentada na mesa com postura impecável, os maços de cigarro já queimados no cinzeiro, seus amigos ébrios e desconectados falando sobre suas teorias, alguns sorriam e outros paravam pensando nas possibilidades para cada explicação. Para ela depois de alguns goles, doses e garrafas todos se tornavam filósofos, físicos, ufólogos... Isso a admirava tanto, a capacidade que o ser humano tem de se expressar quando não tem medo da aceitação. São tantos casos a contar, tantas perguntas a fazer, é pena que o ser humanos seja tão moldado ao ponto de ter medo do ridículo, medo do que os outros vão pensar. Tomou mais um gole de sua bebida se preparando para o que queria contar, livre de qualquer receio e medo contou sobre seu desejo de ver a Terra castigando, eliminando, matando, dando o troco ao Homem. Homo sapiens," Homo estúpidos"," Homo egoístas", "Homo miseráveis". Alguns olharam admirados, outros não haviam prestado atenção, um ou outro debateu, e o restante ficou assustado com o que ela acabara de dizer. Ela sorriu satisfeita, acabara de ter certeza que se todos mostrassem seus pensamentos mais profundos todos se surpreenderiam. Não se preocupou com as faces assustadas ao seu redor, a vida lhe mostrara que todos se aceitam na mesa de bar. Mais dois goles pela satisfação e soube que se o ser humano fosse visto na sua forma mais nítida, se os pensamentos fossem vasculhados a fundo, então mais um universo seria descoberto, o universo que ela disse ser o interno. Ela não queria esconder esse seu pensamento por causa da aprovação alheia, até porque ela sabia que não era a única a pensar assim, talvez a única a dizer, mas a pensar não. E com tanta maldade solta, ela não ficaria esperando piedade... Muito pelo contrário!

quarta-feira, 23 de março de 2011

Além do caos do fim

Encolhida em seu refúgio com a xícara de chá quente esquecido ao seu lado, sentou-se e levou a xícara até a boca em um gesto automático, quase banal. Ela nem sentia exatamente onde estava, nem escutava os barulhos ao seu redor, o único som que ela escutava era o de seus próprios pensamentos. Mais uma vez algo a intrigava, ela ficava ali se perguntando se ela era a única pessoa que sentia medo de não ter tempo. As pessoas sempre acham que têm todo o tempo do mundo, mas para ela isso não era verdade. Se sentia sã demais para acreditar na eternidade das coisas, talvez não houvesse amanhã, e ela não descartava a possibilidade, pois sempre que dormia não tinha certeza se acordaria no outro dia, e sabia que só os tolos dormem com a certeza do dia seguinte. E se não houvesse outro dia? O mundo já tem tanto tempo, ela tinha medo de se surpreender com um fim, medo de acabar e nem ao menos dizer "eu te amo!" para aqueles que importavam, medo de não ter tempo de pedir "perdão" para quem ela julgou ter magoado, medo de não estar perto de quem ela queria. Ela nem se importava tanto com o fim, com o modo, o que a fazia estremecer sentindo o chá descendo pela garganta era de um fim que não lhe permitiria tempo o suficiente para dizer tudo o que deveria ser dito, ela tinha mesmo era medo de deixar algo pendente. Sentiu-se só ali apertando a xícara em sua mão. Talvez fosse a única a pensar assim: ter medo do fim inadiável, do fim sem tempo.

domingo, 20 de março de 2011

Aqui e agora - Este é o lugar e a hora certa!

Exausta de tanta babaquice e procurando um novo rumo entrou de súbito em uma vida que não lhe pertencia, era a antiga vida boêmia que em outras ocasiões já era costumeira, aquela mesma vida que a fazia se sentir liberta e satisfeita em todos os sentidos, aquela que a deixava sem limites, mas não desta vez, seu corpo estava liberto, mas a alma não. Seu corpo sorria, dançava, se embriagava, mas sua alma pedia sossego e paz de espírito, talvez porque ela sabia que ali definitivamente não era seu lugar. Baixinho questionava em que lugar ela deveria estar naquele momento, olhou as pessoas e sorriu sozinha internamente, ela soube que não existia isso de lugar certo, ela estava lá não era? Então espantou todos os seus fantasmas e se pôs a viver, pelo menos naquela noite, porque nada a fazia pensar na noite seguinte, andava em um estado distante de viver cada segundo como se fosse definitivamente o último.

domingo, 13 de março de 2011

Sem anestesia

Ando acovardada, escondida, inerte e ao mesmo tempo exposta. Sufoco-me e depois grito em silêncio, acolho-me em meus cd's, meu quarto, meus livros e em meu próprio cheiro. Andei olhando o teto e pensando em me embriagar, mas não quero anestesiar tudo que estou sentindo, é como se eu quisesse todas essas sensações, pior, é como se eu precisasse sentir tudo isso. Sentir toda a confusão, o medo, a alegria, a euforia, a desilusão, a expectativa... Vê? Sinto-me enjoada de tantos sentimentos distintos, mas nem por isso quero deixá-los. A graça está em se sentir humano, a dor e a alegria me fazem imaginar a vida sussurrando em meu ouvido: "sim, felizmente ou infelizmente você está viva". E quando fui jogada aos prantos nesse mundo inconscientemente eu sabia que vim pra extrair toda a essência de tudo que me seria dado... Quase agonizo em certos dias, em outros nem tanto, mas tenho alimentado todos os meus sentimentos por opção, alguns eu ainda nem sei definir, outros já aprendi a controlar, é um jogo sem graça de sentir, um jogo sem volta de viver!
Eu pensei que nunca iria fazer doer, pensei que no máximo iria ser arranhão e que eu não iria precisar nem mesmo de assoprar, ou pior, pensei que qualquer outra pessoa poderia assoprar pra mim e então estaria tudo em perfeita ordem, mas mesmo se alguém assoprar não vai fazer parar, não quero ninguém por perto. Não consigo me sentir estabilizada, dias acordo eufórica demais pelo que sei que há de vir e em dias como esse acordo melancólica, porque às vezes eu não quero o que há de vir se por acaso não inclui você.