quarta-feira, 23 de março de 2011

Além do caos do fim

Encolhida em seu refúgio com a xícara de chá quente esquecido ao seu lado, sentou-se e levou a xícara até a boca em um gesto automático, quase banal. Ela nem sentia exatamente onde estava, nem escutava os barulhos ao seu redor, o único som que ela escutava era o de seus próprios pensamentos. Mais uma vez algo a intrigava, ela ficava ali se perguntando se ela era a única pessoa que sentia medo de não ter tempo. As pessoas sempre acham que têm todo o tempo do mundo, mas para ela isso não era verdade. Se sentia sã demais para acreditar na eternidade das coisas, talvez não houvesse amanhã, e ela não descartava a possibilidade, pois sempre que dormia não tinha certeza se acordaria no outro dia, e sabia que só os tolos dormem com a certeza do dia seguinte. E se não houvesse outro dia? O mundo já tem tanto tempo, ela tinha medo de se surpreender com um fim, medo de acabar e nem ao menos dizer "eu te amo!" para aqueles que importavam, medo de não ter tempo de pedir "perdão" para quem ela julgou ter magoado, medo de não estar perto de quem ela queria. Ela nem se importava tanto com o fim, com o modo, o que a fazia estremecer sentindo o chá descendo pela garganta era de um fim que não lhe permitiria tempo o suficiente para dizer tudo o que deveria ser dito, ela tinha mesmo era medo de deixar algo pendente. Sentiu-se só ali apertando a xícara em sua mão. Talvez fosse a única a pensar assim: ter medo do fim inadiável, do fim sem tempo.

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